"Quem tem namorado, a adivinhação nos visita com freqüência, pois surgi uma conexão que advinha vontades e os pensamentos ficam interligados. Há relação de pele, saliva, lágrima, sorriso, nuvem, lua, brisa e filosofia. Paquera, flerte, envolvimento e paixão. O outro não precisa ser o mais bonito, não se exige qualidades físicas pois as qualidades que contam não são vistas, mas sim sentidas pelo coração. Ele é aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, ou até mesmo as mãos ficam mais secas do que nunca. Às vezes quase desmaia de emoção pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira, basta um olhar de compreensão ou mesmo aflição. Com ele se tem o bem mais precioso: o amor. Ele traz o gosto de namorar, o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduiche de padaria, drible no trabalho ou na escola. Ele é caricia com vontade de virar sorvete, pacto de amor com felicidade, ainda que rápida, escondida, fugida. Quem tem namorado sabe o verdadeiro valor de mãos dadas, calor trocado, carinho escondido na hora que passa o filme, flor catada num jardim qualquer e entregue de repente. É poesia de Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, sussurrada ao ouvido quem sabe. É ânsia de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. A gente gosta de falar do próprio amor, de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Se redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, beira d’água, bosques enluarados ou ruas de sonho. Uma música passa a ser compartilhada a dois, há troca de presentes que o simples é sempre o mais significativo. Se chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. É gostoso ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ao acordar ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. A gente fala sozinho, ri de si mesmo e não tem medo de ser afetivo. Se enfeita com margaridas e ternuras, escova a alma com leves fricções de esperança e planos. Se descobre com intenções de quermesse nos olhos e paladar com sabor de licor de contos de fadas. O chão parece estar repleto de sons de flauta e do céu parece descer uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante á dizer frases sutis, palavras confortantes de amor. Enlouquece aquele pouquinho necessário a fazer a vida passar e de repente tudo faz sentido."